"Ninguém, depois de acender uma candeia, a cobre com um vaso ou a põe debaixo de uma cama; pelo contrário, coloca-a sobre um velador, a fim de que os que entrem, vejam a luz. Porque nada há secreto que não haja de ser descoberto, nem nada oculto que não haja de ser conhecido e de aparecer publicamente. Vede, pois, como ouvis. A medida que usais, dessa usarão convosco, e ainda se vos acrescentará. Pois ao que tem, ser-lhe-á dado; e ao que não tem, até aquilo que tem ser-lhe-á tirado.” !
(Mar., 4:21-25; Luc., 8:16-18)
Estas palavras de Jesus: "não se deve pôr a candeia debaixo dá cama, mas sobre o velador, a fim de que todos os que entrem, vejam a luz", dão-nos a entender, claramente, que as leis divinas devem ser expostas por aqueles que já tiveram a felicidade de conhecê-las, pois sem esse conhecimento paralisar-se-ia a marcha da evolução humana.
Não espalhar os preceitos cristãos, a fim de dissipar as trevas da ignorância que envolvem as almas, fora esconder egoisticamente a “luz espiritual que” deve beneficiar a todos.
Manda a prudência, entretanto, que se gradue a transmissão de todo e qualquer ensinamento à capacidade de assimilação daquele a quem se quer instruir, de vez que uma luz intensa demais o deslumbraria, ao invés de o esclarecer.
Cada ideia nova, cada progresso, tem que vir na época conveniente. Seria uma insensatez pregar elevados códigos morais a quem ainda se encontrasse em estado de selvageria, tanto quanto querer ministrar regras de álgebra a quem mal dominasse a tabuada.
Essa a razão por que Jesus, tão frequentemente, velava seus ensinos, servindo-se de
figuras alegóricas, quando falava aos seus comtemporâneos . Eram criaturas demasiado atrasadas para que pudessem compreender certas coisas. Já aos discípulos, em particular, explicava o sentido de muitas dessas alegorias, porque sabia estarem eles preparados para isso. Mas, como frisa a parábola em tela, "nada há secreto que não haja de ser descoberto, nem nada oculto que não haja de ser conhecido e de aparecer publicamente". À medida que os homens vão adquirindo maior grau de desenvolvimento, procuram por si mesmos os conhecimentos que lhes faltam, no que são, aliás, auxiliados pela Providência, que se encarrega de guiá-los em suas pesquisas e lucubrações, projetando luz sobre os pontos obscuros e desconhecidos, para cuja inteligência se mostrem amadurecidos.
Os que, por se acharem mais adiantados, intelectual e moralmente, forem sendo iniciados no conhecimento das verdades superiores, e se valham delas, não para a dominação do próximo em proveito próprio, mas para edificar seus irmãos e conduzi-los na senda do aperfeiçoamento, maiores revelações irão tendo, horizontes cada vez mais amplos se lhes descortinarão à vista, pois é da lei que, "aos que já têm, ainda mais se dará."
Quanto aos que, estando de posse de umas tantas verdades, movidos por interesses rasteiros fazem disso um mistério cujo exame proíbem, o que importa "colocar a luz debaixo da cama", nada mais se lhes acrescentará, e "até o pouco que têm lhes será tirado", para que deixem de ser egoístas e aprendam a dar de graça o que de graça hajam recebido.
A vida nos planos espirituais, questão que interessa profundamente os sistemas filosóficos e religiosos, por muitos e muitos séculos permaneceu como um enigma indevassável; chegou, porém, o momento oportuno em que deveria "aparecer publicamente", e daí o advento do Espiritismo.
Rasgaram-se, então, os véus que encobriam esse imenso universo,tão ativo e real quanto o em que respiramos, e, à luz dessa nova revelação, a sobrevivência da alma deixa de ser apenas uma hipótese ou uma esperança, para firmar-se como confortadora e esplêndida realidade.
Do livro do Rodolfo Calligaris : Parábolas Evangélicas à Luz do Espiritismo (os grifos são nossos)