A prática da mediunidade espírita consciente proporciona inimagináveis satisfações. Não apenas dulcifica aquele que se lhe propõe ao ministério como enseja a paz interior que decorre do prazer de servir, repartindo emoções. A mediunidade, que se encontra presente em todos os indivíduos, requer cuidados especiais que lhe facultem o conveniente desabrochar, ou, a posteriori, o correto conduzir.
Excetuam-se, naturalmente, os casos em que ocorrem as obsessões, quando, pela violência, os sensitivos são dominados pela interferência do invasor da sua casa mental, conforme o grau em que se estabeleça a parasitose psíquica.
Outras vezes, em razão do descurado comportamento moral do médium, há intercorrências que se estabelecem como condições viciosas, levando-o a estados de alienação ou dependência perniciosa, nas quais desestrutura a personalidade e marcha para a consumpção dos objetivos dignificantes da vida.
Para que ocorra uma educação desejável, é necessário o estudo da própria faculdade, assim como da Doutrina Espírita, a fim de identificar-se o mecanismo das forças de que se dispõe, bem como os valores éticos e instrutivos do Espiritismo, que devem ser incorporados ao dia-a-dia, gerando conquistas morais que libertam o médium das paixões inferiores e atraem os Seres Espirituais interessados no progresso da Humanidade.
Adicione-se a disciplina como fator relevante, graças ao contributo da qual se fixam os hábitos salutares no exercício da faculdade, para que se colimem os fins específicos dessa função a que denominam de natureza extra-sensorial.
Outrossim, são fatores de considerável significação a vida interior do medianeiro, a sua capacidade de concentração, de fixação de propósitos na área da meditação, com o objetivo de libertação das sensações mais grosseiras que respondem por vasta cópia de prejuízos na conduta e na individualidade profunda do ser.
Numa sociedade que se apaixona pelos ruídos e que se movimenta em torno da balbúrdia, atravancando-se de coisas-nenhumas que perturbam a paz e a integração nos ideais relevantes, faz enorme falta o silêncio íntimo e o equilíbrio das emoções.
Para o conveniente registro das comunicações espirituais é exigível que se estabeleça, mediante a concentração, o aquietamento das ansiedades e das turbações constantes, ruidosas e insensatas, de modo que ocorram espaços mentais silenciosos, nos quais se captam as informações, os pensamentos das Entidades desencarnadas.
A mente deve tornar-se um espelho que reflita sem sinuosidades nem distorções as imagens que lhe sejam projetadas, o que requer uma lâmina correta, de elaboração cuidada.
Num psiquismo irrequieto, caracterizado pela irreflexão e por suscetibilidades, não se encontram áreas de paz, de silêncio, que ensejem a tranquila captação das paisagens e mensagens que se lhe transmitam.
Certamente, esta não é uma tarefa para ser realizada de um golpe, em momento de empatia ou de entusiasmo, antes decorre de um processo de autocontrole de largo curso, que se logra mediante exercício constante, gerador do clima emocional harmonioso que favorece o silêncio mental indispensável.
Ninguém estabelece que o médium deva ser um espírito perfeito para atingir esse estado; no entanto, é desejável que ele se esforce por melhorar-se sempre, galgando mais altos degraus da evolução, aspirando por mais significativas conquistas morais.
O silêncio íntimo preserva a paz do indivíduo em todo lugar, sem que ele seja atingido pelos petardos da ira ou do ciúme, pelos gravames da maledicência ou da calúnia, que lhe sejam atirados.
Da mesma forma, pouco importa a balbúrdia em sua volta, conseguindo transitar em qualquer clima físico e mental sem perturbação ou desordem, não se afinando com as ondas de violência que se entrechocam em torno da sua atividade.
O estudo doutrinário estimula a criação de um estado íntimo otimista, equaciona os problemas afligentes que cedem lugar à confiança na fatalidade do bem, que a todos se destina.
Origina-se aí a autoconfiança, com o consequente libertar-se das preocupações exageradas e da valorização de insignificâncias que se responsabilizam por muitas aflições.
Nesse campo de harmonia mental estabelecem-se o silêncio, a quietação interior, a passividade mediúnica, responsáveis pelo registro e fidelidade do intercâmbio. Os outros fatores morais completam a qualidade do conteúdo da mensagem, como efeito da sintonia do médium com os seus Instrutores, que se deixam atrair pelo esforço por ele desenvolvido, assim como pelo aproveitamento e aplicação das lições recebidas.
Não se levando em consideração esses requisitos mínimos, o fenômeno mediúnico não vai além de trivialidades e incongruências, perturbações e distonias, quando a função, em si mesma, não sofre bloqueios decorrentes do baixo teor vibratório das companhias psíquicas do próprio médium.
Desse modo, a prática espírita da mediunidade não se restringe a momentos, a situações e lugares, mas a um permanente estado de sintonia com o Alto e de equilíbrio pessoal, porquanto o intermediário, onde se encontre, não se apresenta dissociado nem liberado das forças e faculdades paranormais de que está investido.
A sua atuação deve ser constante, embora não se faça necessária a interferência ostensiva dos Espíritos, tendo em vista ser ele mesmo um Espírito em processo de crescimento para a Vida e para Deus.
Manoel Philomeno de Miranda
FRANCO, Divaldo P. "Temas da Vida e da Morte". Pelo Espírito Manoel P. de Miranda. Rio de Janeiro, RJ: FEB.1989. p. 129-132.
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